O princípio das dores e nossa posição em Cristo

Luciano Motta

O mundo começa 2015 abalado pelos incidentes na França e em outros países, como a Nigéria. As grandes potências ocidentais estão alarmadas com a proliferação de grupos radicais e veem no discurso aparentemente religioso desses extremistas intenções escusas de poder e controle sobre territórios e fontes de riqueza, como os campos de petróleo. É claro que essas questões são muito mais complexas. Análises históricas, geopolíticas e sociológicas apontariam outros fatores além dos acima citados. Porém, de qualquer forma, a humanidade está colhendo hoje as injustiças e os conflitos do passado. Não bastassem as guerras e os ataques terroristas, o clima do planeta parece já ter sido afetado de forma irreversível pelas inconsequências do homem.

Aqui no Brasil, os conflitos que travamos são só um pouquinho diferentes. Se não estamos sob a mira de radicais islâmicos, sofremos com a violência de facções criminosas que ocupam os espaços abandonados pelo poder público e ditam suas próprias leis. Nossas cidades possuem índices de homicídios semelhantes aos de conflitos armados na África e no Oriente Médio. Sofremos também com o discurso dos políticos, ainda ancorado no lugar-comum das promessas vazias, das ações pautadas pelo improviso, por "jeitinhos" e "esquemas". A crise em nossa maior instituição - a Petrobras - apenas confirma o que todos já sabiam: a corrupção está em todos os níveis, entranhada como câncer na nação brasileira. Para piorar, a falta de chuvas promove caos nas metrópoles e nas regiões agrárias.

São dias realmente difíceis, mas não nos surpreendemos. Jesus alertou Seus discípulos (e todos nós) sobre os tempos do fim:

"E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; não fiqueis alarmados; pois é necessário que assim aconteça; mas ainda não é o fim. Porque nação se levantará contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores" (Mateus 24.6-8).

Em analogia a uma mulher grávida prestes a dar a luz, Jesus identifica o agravamento da violência, das desigualdades sociais e das calamidades naturais como "o princípio das dores". É de se esperar, portanto, que as dores atuais aumentem mais e mais, em intervalos de tempo cada vez menores. Um bom exemplo disso é o fato de sempre terem ocorrido abalos sísmicos e mudanças climáticas na terra, mas nunca com a frequência e a intensidade que se vê nas últimas décadas.

Outro ponto é o profundo e largo abismo entre ricos e pobres. Estima-se que apenas 2% da população mundial concentre metade da riqueza global e que mais de 800 milhões de pessoas no planeta (uma em cada oito) ainda passem fome, especialmente por causa de conflitos armados, catástrofes naturais e alimentos com preços elevados.

Mais eventos dramáticos irão se intensificar no mundo nos próximos anos, conforme as palavras de Jesus:

"Então sereis entregues à tortura e vos matarão; e sereis odiados por todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos haverão de abandonar a fé, trair e odiar uns aos outros. Também surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a maldade, o amor de muitos esfriará" (Mateus 24.9-12).

Pode parecer algo muito distante para nós, brasileiros, sermos torturados e mortos por causa de Cristo, mas já é uma triste realidade em muitos países. Não se engane: isso também chegará aqui. As nações irão nos odiar se seguirmos verdadeiramente a Jesus. Pessoas próximas, companheiros de trabalho, amigos e parentes irão nos odiar se nos posicionarmos pelos valores do Reino de Deus. A tradicional (e bíblica) concepção de casamento entre um homem e uma mulher tem sido radicalmente combatida em nossos dias, e quem se posiciona contra os ditames do mundo a esse respeito sofre retaliações e perseguições de todo tipo. Não falta muito tempo para que nosso estilo de vida centrado em Deus comece a provocar grande ira em quem rejeita tudo o que se aproxima de Cristo ou de ser cristão.

À medida que o amor se esfriar, as pessoas se tornarão mais individualistas, mais desconfiadas, mais agressivas. Será muito difícil manter uma aliança com alguém (no casamento, nos negócios e até na igreja), porque a traição se converterá em uma prática normal. Valores como ética e integridade ficarão de lado porque as pessoas amarão o mundo e o que nele há. Serão guiadas pelo desejo da carne, pelo desejo dos olhos e pelo orgulho dos bens (1 João 2.15-16). Ao mesmo tempo, falsos profetas se levantarão nas nações e pregarão um falso evangelho, pautado pelo amor ao dinheiro e pelo engrandecimento de si mesmos, de seus empreendimentos. Multidões vem sendo enganadas por pseudo-homens-de-Deus que profetizam mentiras em nome do Senhor (Jeremias 29.9) e que interpretam as Escrituras segundo sua própria conveniência, para crescimento de seus impérios religiosos.

Como resultado de tudo isso, muitos abandonarão a fé. Pessoas que um dia tiveram o coração inflamado pelo Senhor mergulharão em profundas crises e deixarão de seguir o Caminho. Muitas igrejas se tornarão mornas, ainda tentarão manter uma aparência de fervor, mas não resistirão à multiplicação da maldade e ao esfriamento do amor.

Lembremos que essas são as primeiras dores. O cenário aterrador deste começo de 2015 (e dos últimos anos) ainda é leve. Virá uma grande tribulação sobre o mundo inteiro. Apesar das crises atuais e da perspectiva sombria quanto aos próximos acontecimentos, Jesus nos deixou uma promessa:

"Mas quem perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro, para testemunho a todas as nações, e então virá o fim" (Mateus 24.13-14).

O aumento das dores no mundo não deve nos assustar, mas nos levar a um posicionamento. Aqui, a palavra perseverar significa "permanecer, não retirar-se ou fugir; manter-se firme na fé em Cristo; sofrer e aguentar bravamente". Só teremos condições de perseverarmos em dias tão turbulentos se nos enriquecermos (espiritualmente) em Cristo, em toda palavra (decretos e preceitos de Deus) e em todo conhecimento (sabedoria e revelação de Deus), na proporção que o testemunho Dele for confirmado entre nós. Ele mesmo nos firmará até o fim, para sermos irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1.5-8).

Um caso emblemático é o da igreja em Tiatira (Apocalipse 2.18-29), notória por suas obras, seu amor, sua fé, seu serviço e sua perseverança. Mas era uma igreja que tolerava Jezabel, ou seja, era um povo permissivo em relação a uma forma de pensar totalmente contrária ao Senhor. Veja que de cristãos perseverantes, cheios de amor e obras (semelhantes a muitos de nós), foram se esfriando por serem passivos com a iniquidade. No fim, apenas uma parte perseverou. As Escrituras falam de um remanescente que não sucumbiu à sedução de Jezabel e sua falsa doutrina, um remanescente que conservou (manteve cuidadosamente e fielmente) o que havia recebido de Cristo.

Na hora mais crítica, Pedro negou conhecer Jesus para fugir de maiores consequências, mas depois se arrependeu e liderou a igreja primitiva, conservando o testemunho de Cristo. Hoje, numa época de intensas dores e de espera pelo Rei que virá e restaurará todas as coisas, enquanto ainda temos algum tempo antes da grande tribulação e do Dia do Senhor, precisamos nos arrepender de uma fé cômoda, que muitas vezes nos permite vivermos sem assumirmos o Cristo que realmente cremos e conhecemos perante o mundo, não importam as circunstâncias. Esse tipo de fé não suportará tantas guerras, fomes, terremotos, perseguições e mortes por vir. Precisamos nos posicionar agora mesmo radicalmente em Cristo, e nada nos abalará, pois seremos aqueles que "venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho e, mesmo diante da morte, não amaram a própria vida" (Apocalipse 12.11).

Além disso, se nos aprofundarmos em Cristo, também iremos perseverar em nossas alianças no Corpo de Cristo. Na verdade, seremos uma resposta à oração de Jesus para que fôssemos um (João 17). Precisamos zelar pelos nossos relacionamentos enquanto família de Deus. Precisamos zelar pela unidade da Igreja.

Haverá um remanescente em Israel que se unirá ao remanescente da Igreja e juntos serão a Noiva gloriosa que o Noivo irá encontrar na Segunda Vinda. Somente quem estiver preparado entrará com Ele para a festa de casamento (Mateus 25.1-13), Somente os servos bons e fiéis participarão da alegria do Senhor (25.14-30). Quando enfim as dores de parto cessarem, aqueles que perseverarem verão o nascimento de um novo tempo - o Reino de Deus sendo estabelecido definitivamente. Aqueles que se posicionarem verão o Rei face a face e estarão ao lado Dele para sempre. Falta pouco tempo!

"Ele mesmo nos firmará até o fim, para sermos irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1.8).

Comentários

  1. Muito bom seu texto. Panorâmico e reflexivo! Chama-nos ao posicionamento! "Ele mesmo nos firmará até o fim" essa é a confiança que nos dá esperança e fé!!!!

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