Água, Sal, Terra e Árvore

Por Luiz Armando

A Água como Palavra viva
Jesus lavou a Igreja com a água da Palavra para apresentá-la a si mesmo Igreja Gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito... (Efésios 5.26,27). Podemos relacionar este texto com o dia de Pentecostes, em que a chuva do Espírito trouxera a revelação de Cristo como Palavra viva, purificando a igreja por intermédio do discurso de Pedro, tornando-a pura, santa e gloriosa. A igreja cresceu, atingindo seu apogeu histórico revestida do poder de Deus, enquanto perseverava na palavra de Deus pura e sem mistura, que é a doutrina dos apóstolos (Atos 2.42).

Apesar desse maravilhoso tempo de refrigério, Jesus avisara que viriam tempos difíceis, conforme lemos no livro de Mateus. Haveria contaminação e traição, o amor esfriaria, vindo então a apostasia, ou seja, o abandono da fé e da obediência convicta à Palavra de Deus. Ainda nesse contexto, esclarecera o Senhor sobre o multiplicar da iniquidade, o surgimento de falsos profetas, o princípio das dores e a grande tribulação, e ainda indicara os sinais da sua vinda, conforme consta no capítulo 24 de Mateus.

Paulo, em seu ministério, lutara contra a perversão do Evangelho de Cristo, à luz de Gálatas 1.6,7: "Estou admirado de que estejais vos desviando tão depressa daquele que vos chamou pela graça de Cristo para outro evangelho, que de fato não é outro evangelho, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo".

A verdadeira Palavra de Deus não pode ser misturada com nada, pois onde houver mistura jamais habitará o Espírito da Palavra, que é a graça da salvação, para entrarmos no propósito eterno de Deus. Corroborando esta verdade, Paulo escreve aos colossenses, prevenindo-os contra a contaminação da Palavra: "Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo" (Colossenses 2.8).

Com a mistura, veio a apostasia profetizada por Jesus no livro de Mateus, bem como na epístola de Paulo (vide 2 Tessalonicenses 2.3). A partir da perda da doutrina dos apóstolos, a igreja perdeu toda a sua vida, ou seja, o partir do pão de casa em casa, a unanimidade nas orações, sua unidade em cada cidade, e tudo mais. Seu declínio chegara ao extremo da calamidade, piorando de geração em geração, bem como descrevem as cartas às igrejas em Apocalipse, a começar pelo abandono do próprio amor, que é a natureza de Deus refletida na igreja (Apoc 2.4).

Por fim, temos a morte da igreja, refletida na esterilidade de suas obras. Pode até parecer forte demais tal afirmação, mas quem nos diz isso é o próprio Senhor Jesus, nos seguintes termos: "conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te pois do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te..." (Apoc 3.1-3). A ruína causada pela contaminação da Palavra se vê nos seguintes termos: "mornidão, infelicidade, pobreza, miserabilidade, cegueira e nudez vexatória" (conforme Apoc 3.14-19).

Todavia, há esperança para os que creem sem ilusão, ou seja, o Senhor vai restaurar a sua Igreja, pois antes de seu retorno, todas as coisas hão de ser restauradas, conforme nos revela a palavra do Senhor em Mateus 17.11-13, reafirmando esta verdade em Atos 3.19-21.

O sal da aliança descontamina a água, trazendo vida e fertilidade
Não esgotaremos aqui o amplo e multifacetado significado do sal. Vamos nos limitar apenas a certos aspectos, como veremos adiante.

Aqui refletiremos sobre o feito de Eliseu na cidade de Jericó, na exata dicção de 2 Reis 2.19-22: "Os homens da cidade lhe disseram: Eis que é bem situada esta cidade, como vê meu senhor, porém as águas são más e a terra é estéril. Ele disse: trazei-me um prato novo e ponde nele sal. Então saiu ele à fonte das águas e deitou sal nela e disse: Assim diz o Senhor: Tornei saudáveis estas águas, já não procederá daí morte nem esterilidade. Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas, até o dia de hoje, segundo a palavra que Eliseu tinha dito".

Recordando: a água é a palavra com a qual Jesus lava a igreja, para apresentá-la a si mesmo gloriosa, sem mancha nem ruga, nem coisa semelhante. Vimos em Atos que essa palavra viera pura e sem mistura no derramar do Espírito Santo, formando uma igreja gloriosa. Porém, como também já vimos, posteriormente viera outro tempo, em que houvera mistura e contaminação, resultando em morte e esterilidade.

Agora, Deus vem trazendo a descontaminação da água, por intermédio do sal, destruindo toda impureza e mistura, tornando saudável a água, ou seja, a palavra, para curar a terra.

A terra, por sua vez, tem forte significado nas parábolas de Jesus, especialmente no capítulo 13 do livro de Mateus: O semeador, o joio e o trigo, e o grão de mostarda. Em todas essas parábolas, a terra é o coração, o qual precisa ser descontaminado. Isso ocorre por meio do sal da aliança no sangue de Jesus.

Sobre a descontaminação por intermédio do sal, Jesus ensinara seus discípulos a conhecerem o Pai, o Seu Amor, Seu perdão incondicional, a reconciliação, bem como a justiça perfeita do Deus irresistível e totalmente desejável. Depois destas lições, Jesus dissera a seus discípulos: VÓS SOIS O SAL DA TERRA (Mateus 5.13). Foi dessa forma que Jesus os conduzira a tocar vidas e a sarar pessoas, fazendo-as nascerem de novo das águas e do Espírito.

Voltando à história de Eliseu, a fonte das águas nasce de dentro da terra. Se cavarmos um poço em boa terra podemos encontrar água. Pois no ato de jogar sal na fonte das águas, Eliseu frisara: "já não procederá daí morte nem esterilidade". Trazendo as palavras de Eliseu para a ótica de Jesus: aquele que beber dessa "palavra", ou seja, dessa água, do seu interior fluirão rios de água viva. Jesus também esclarece que o mal não entra pela boca do homem. O mal é o que sai da boca do homem, ou seja, a palavra que está em seu coração.

Vale aqui toda a atenção à recomendação contida em Provérbios 4.23: "Sobre tudo que deves guardar, guarda o seu coração, porque dele procedem as fontes da vida". Lembremo-nos novamente de Eliseu, que jogou sal na fonte das águas, sarando assim a terra para vida e fertilidade.

Como podemos ver, o sal da aliança precisa sarar o coração do homem para que a Palavra do Senhor seja verdadeiramente a Palavra do Senhor, pura e sem mistura, apta a produzir seus efeitos. Nesse contexto, vale mencionar Colossenses 4:6: "A vossa palavra seja sempre agradável temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um". O sal da aliança purifica e alinha a nossa vida com o coração de Deus, trazendo cura, consolação e esperança.

Existe ainda a tônica de Marcos 9.50, em sua parte final, que diz: "tende sal em vós mesmos". Vimos até aqui o lado do sabor de viver em Cristo, ou seja, o Espírito Consolador trazendo cura e alegria no amor eterno que nos constrange na esperança da volta de Jesus. Vamos agora vislumbrar uma outra face do sal: o sal do juízo e da justiça, à luz de Marcos 9.49: "Porque cada um será salgado com fogo".

Confirmando essa face do sal, é válido observar os períodos de juízo na história de Israel, como em Deuteronômio 29.23: "e toda a sua terra abrasada com enxofre e sal, de sorte que não será semeada, e nada produzirá, nem crescerá nela erva alguma, assim como foi a destruição de Sodoma e Gomorra, de Admá e Zeboin, que o Senhor destruiu na sua ira e no seu furor". Também em Gênesis 19.26, a mulher de Ló olhou para trás e convertera-se numa estátua de sal. Da mesma forma, o sal do juízo e da justiça refletira-se no episódio de Ananias e Safira, os quais olharam para trás, ou seja, para seus valores antigos, antagônicos ao Reino de Deus. Foram então salgados com fogo e enxofre, formando assim uma congruência entre essas passagens (Atos 5.1-11, Gênesis 19.26 e Deuteronômio 29.23).

Não precisamos ter medo, e sim muito respeito, pois o sangue, a palavra da redenção e o fogo do Espírito a queimar em nossos corações são mais do que suficientes para sermos aceitos nas entranhas do Deus que nos ama com amor eterno, para sermos mantidos e sustentados em Cristo, gozando de todo o amor e proteção de Deus.

As duas árvores, suas raízes e seus efeitos
No princípio, duas árvores aparecem em Gênesis 2.9. De uma árvore come-se de seu fruto para a vida; da outra, come-se de seu fruto para a contaminação da morte, nos separando de Deus.

A Árvore da vida é melhor visualizada no livro de Romanos, em seu capítulo 11, esclarecendo que o povo de Israel figura como os ramos naturais, e nós fomos enxertados nesta árvore, por providência de Deus, para cumprir a sua promessa a Abrão, estendendo a sua benção a todas as nações. Assim, a Árvore da vida produz fé e obediência para a vida, e a Árvore do conhecimento do bem e do mal produz rebeldia e desobediência para a morte. A Árvore da vida possui a raiz de Davi, ou seja, o próprio Cristo que é o Filho de Deus, Aquele que já existia antes da fundação do mundo e sustenta toda a árvore, pois Ele é o Verbo vivo de Deus, a Palavra que criara todas as coisas.

Por sua vez, a rebelião que nascera no coração de Satanás, jogando um terço dos seres celestiais contra o Todo Poderoso Deus, pusera dúvidas no coração do homem quanto a verdade a respeito das intenções de Deus, levando Eva e Adão a conhecerem as terríveis consequências do pecado e da morte. Satanás induziu Eva ao pecado, dizendo: "Na verdade, Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal" (Gênesis 3.5). Esta é a raiz desta Árvore, que traz a morte.

Paulo escreve aos colossenses: "Tende cuidado para que ninguém vos tome por presa, por meio de filosofias e sutilezas vazias, segundo a tradição dos homens, conforme os espíritos elementares do mundo, e não de acordo com Cristo" (Colossenses 2.8). Filosofias humanistas e vãs sutilezas como a teoria que relativiza a verdade, negando-lhe caráter absoluto, e a tradição dos homens, a qual tem sua conformidade com os rudimentos do mundo e não segundo Cristo, pois essas coisas têm origem na árvore do conhecimento do bem e do mal.

Outro fato merece nossa atenção: em Apocalipse 17.1 nos é revelada a figura de uma prostituta sentada sobre muitas águas. Os mortos espirituais estão assentados sobre as águas que procedem da Árvore do conhecimento do bem e do mal, e isso os torna filhos da chamada grande prostituta. Já em Apocalipse 13.1 surge do mar (que sugere "muitas águas") a primeira besta, a qual recebe o seu poder do dragão. Aqueles que não têm seus nomes escritos no livro da vida adoram a besta e o dragão. E da terra, que vimos nestas linhas ser uma figura do coração, surge a segunda besta, a qual com sinais e prodígios, "seduz" os que habitam sobre a terra (Apoc 13.14). Esta segunda besta trabalha com a sede violenta de poder e prazer do coração do homem do pecado, todos que têm a marca da besta.

O Senhor adverte a Sua Igreja contra o espírito de Jezabel, que faz de líderes cristãos verdadeiros Acabes. Com sutilezas, através de falsas profecias e falsos ensinos, seduz servos de Deus à prostituição e à idolatria (Apoc 2.20).

O objetivo prático desta explanação é nos conduzir ao Sal da Aliança
Devemos buscar com sinceridade, fé e muita oração a mesma intimidade que nossos pais, apóstolos e profetas, e muitos outros irmãos, de geração em geração, tiveram com Deus, andando com Ele. Estes escreveram a história, nos transmitindo legado poderoso. Portanto, cavemos os poços de nossos pais, nos quais encontraremos a Água pura, Palavra viva, sem mistura, pois o vinho novo só virá ao odre novo, e as águas do avivamento final só virão se formarmos um dique capaz de retê-las.

Lembremo-nos, por fim, que se não houver sacrifício temperado no sal da aliança (vide Levítico 2.13), também não haverá fogo sobre o altar para trazer a restauração de todas as coisas (Mateus 17.11 e Atos 13.19-21).

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