Retidão em dias tortuosos

Luciano Motta

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, a palavra "retidão" indica a qualidade de quem é reto, ou seja, alguém sincero, verdadeiro, justo, imparcial; aquele que segue o caminho da honra e da probidade; uma pessoa observadora dos deveres, da justiça e da moral. Falar de retidão neste século, a partir desses pressupostos, produz um choque de realidade: vivemos dias de alta relativização e quebra acelerada de paradigmas. Valores basilares da sociedade, como a família, vêm sendo abandonados ou substituídos por outros modelos e princípios, cujos resultados catastróficos já são bem conhecidos. Há uma demanda enorme por "pessoas de bem" e "de palavra", por lideranças que sejam exemplo de integridade e caráter. Há um clamor por retidão e justiça. As manifestações recentes no Brasil provam isso.

É um paradoxo que a Igreja tenha deixado de ser sinônimo de "gente certinha" e "quadrada", no sentido de conservadora dos bons costumes. Algo está muito errado quando o que é bom passa a ser mau, e o que é mau passa a ser bom, e aqueles que deveriam dizer "Isso está errado!" se calam ou se unem aos que têm invertido e subvertido as coisas. O divórcio, por exemplo. Deus detesta o divórcio, Ele só permite o divórcio por causa da dureza dos corações humanos, e Jesus não autoriza novos casamentos depois de divórcios (Lucas 16.18). Mas o que se vê hoje na Igreja é o mesmo padrão torto do mundo: famílias fragmentadas, filhos sem referência de pais e com irmãos de outros relacionamentos. Cada vez mais escolas estão deixando de celebrar o Dia das Mães e o Dia dos Pais porque essas comemorações parecem ter perdido o sentido, tamanha a confusão!

Se a mola mestra da sociedade - a família - está quebrada, o que dizer de outras áreas? Poderíamos falar aqui dos "novos valores" que as crianças têm recebido atualmente no mundo real e virtual, das dificuldades de se administrar bem as finanças, das desigualdades e dos problemas urbanos. Poderíamos tratar de outras consequências da falta de retidão, como a perda de valores éticos. Tornou-se prática cotidiana o desvio, o jeitinho, a malandragem. E se a Igreja falha enquanto padrão de justiça, que esperança resta à humanidade senão que venha o Justo Juiz, o Senhor dos senhores e Rei dos reis, e transforme todas as coisas?

"Nosso Deus vem e não guarda silêncio. Diante dele, há um fogo devorador e, ao seu redor, uma grande tempestade" (Salmo 50.3).

"Justiça e juízo são os alicerces do teu trono; amor e verdade vão à tua frente" (Salmo 89.14).

"Nuvens e escuridão o rodeiam; justiça e retidão são a base do seu trono. Diante dele vai um fogo que consome seus inimigos ao redor. Seus relâmpagos iluminam o mundo; a terra os vê e treme. Os montes derretem como cera na presença do Senhor, na presença do Senhor de toda a terra. Os céus anunciam sua justiça, e todos os povos veem sua glória" (Salmo 97.2-6).

O fogo descrito pelos salmistas retrata o Zelo de Cristo em sua segunda vinda. Ele queima de Amor e Verdade - Seus olhos são como chamas de fogo! (Apocalipse 1.14) Ele vai consumir tudo o que está errado, tudo o que está desajustado e que não se enquadra às bases do Seu trono. É por isso que as pessoas precisam urgentemente saber que Jesus vem ao encontro de uma Noiva gloriosa como Ele é! Ele restaurará todas as coisas e estabelecerá o Seu Reino na terra em parceria com uma Igreja Santa, condizente a Justiça e a Retidão que sustentam Seu trono e constituem Seu próprio caráter. Eis a questão: Como estamos nos preparando para o Grande Dia do Senhor? Seremos capazes de fitar os olhos de Cristo? Seremos imediatamente consumidos por causa de nossos grandes (e pequenos) desvios diários ou celebraremos com Ele em Sua Presença?

"Pereçam os ímpios diante de Deus como a cera que derrete no fogo. Mas alegrem-se os justos, regozijem-se na presença de Deus e se encham de júbilo. Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome! Louvai aquele que cavalga sobre as nuvens, pois seu nome é SENHOR; exultai diante dele!" (Salmo 68.2-4).

Esses e outros salmos, dentre tantas passagens proféticas que poderíamos mencionar aqui, descrevem com detalhes impressionantes o que se passa no trono de Deus e o que vai acontecer quando Jesus voltar. São passagens completamente alinhadas com o que João viu e relatou no livro de Apocalipse:

"Aquele que estava assentado tinha a aparência semelhante a uma pedra de jaspe e sárdio. Ao redor do trono havia um arco-íris semelhante a uma esmeralda. [...] Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões; diante do trono estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus" (Apocalipse 4.3,5).

"A morte e o inferno foram jogados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E todo aquele que não se achou inscrito no livro da vida foi jogado no lago de fogo" (Apocalipse 20.14-15).

Vivemos os dias do fim, Cristo está às portas, mas as pessoas se comportam como nos dias de Noé, completamente embevecidas pelo que o mundo lhes proporciona, sem se aterem ao que lhes espera! Jesus está vindo com poder e grande glória, e a Igreja segue despreparada, embora já avisada, mantendo suas botijas sem azeite, sua fé sem o combustível da paixão e do amor pelo Amado, sua conduta cambaleante e cambiante por tantos amores, atividades, preocupações!

As boas novas do Evangelho não se limitam a uma vida legalzinha nesta terra, ainda que sejamos transformados e aperfeiçoados pela graça de Deus. Na verdade, todo nascido de novo em Cristo não tem maior motivação do que ser exatamente como Aquele que os salvou! Ele nos amou quando ainda estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e nos justificou, e nos fez retos à Sua própria imagem. Hoje Ele nos declara justos, perdoados, bem-aventurados. Pelo Espírito Santo, podemos entrar no descanso de Deus e nos aproximarmos do trono da graça com confiança, para encontrarmos misericórdia e graça (Hebreus 4).

Algumas pessoas já estão queimando... queimando... queimando por Ele! Esses já estão fazendo outros queimarem também, porque se comprometeram em elevar o padrão, buscando viver em retidão, à imagem do Justo. Não há fórmulas mágicas, instantâneas. Eles estão crescendo em graça, desenvolvendo sua salvação pela devoção diária, pelo alimento que desce do Céu, pelo conhecimento e revelação da pessoa de Cristo. O que os salmistas viram, o que João viu, essas pessoas estão vendo pela fé Naquele que em breve há de vir, e estão se preparando para o Grande Dia. Eles anseiam ver o Amado e fitar Seus olhos que queimam Amor e Verdade.

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