As marcas de um recomeçar - Parte 1

Artigo de Anderson Bomfim, do site Missão Mobilização

{ Esse texto tem muitos pontos em comum com a série de artigos que escrevi sobre Encontros e Movimentações. Acredito que estamos em um ano de importantes e inevitáveis recomeços, de mudanças que o próprio Deus está gerando no coração da Sua Igreja. Peça ao Senhor que abra seu entendimento e sua percepção quanto a esta época tão decisiva e história que vivemos. }


Todos nós estamos em uma jornada, e toda jornada é marcada por tempos, sabemos que o tempo é cíclico, que não há nada novo debaixo do sol (Eclesiastes 1:9 | O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol), e a medida que rompemos ciclos de tempos durante a vida, avançamos para viver o cumprimento de processos que nos modelam à palavra que carregamos, à palavra que fala de quem somos e o que fomos chamados para fazer. Vivemos dias que exigem de nós posições firmes, muitos de nós estamos no tempo oportuno e lugar correto, o momento de rompermos com a repetição incômoda dos mesmo ciclo, e repetição dos mesmos erros, estamos diante do desafio de superarmos a sensação de estarmos anos parados no mesmo lugar. Estamos diante da oportunidade de fazer valer a pena todas as situações vividas e nem sempre compreendidas nestes últimos anos, fazer com que todo tempo de experimentação e aparente retrocesso, nos impulsionem a viver um novo momento, mesmo que as situações a nossa volta pareçam ser as mesmas, seremos pessoas diferentes.

Podemos passar pelo mesmo lugar várias vezes, mas o que determinará se estamos ou não em um novo momento é o fato de reagirmos de forma diferente às situações parecidas. Josué passou com o povo de Israel pelo mesmo lugar, mas o que determinou um novo tempo de avanço e ocupação é não serem mais os mesmos e não cometeram os mesmos erros do passado.

Portas se abrem diante de nós em determinados momentos da vida e temos a sensação de “novos começos”, de um tempo de recomeçar, de um novo dia de Deus, de uma nova etapa da nossa contínua caminhada de transformação através da renovação da nossa maneira de pensar e viver. Enquanto normalmente somos tentados a trabalhar por um lugar que nos acomode, Deus nos lança diante de novos desafios, sempre nos impulsionando a ir adiante, a rompermos em nossa jornada de fé, a continuarmos dentro da sua agenda, correspondendo ao seu cronograma.

Pensando nesse tempo de recomeçar, duas figuras importantes nas escrituras me ajudam a ver por uma nova perspectiva. Trata-se de Moisés e Paulo, dois legisladores, homens que trouxeram uma comunicação fundamental da palavra e passaram por um processo parecido. O que me chama a atenção é que tanto Moisés como Paulo, eram homens em processo, ministros em desenvolvimento, homens que entendiam estar prontos para cumprirem seu chamado.

RECONHECER O FRACASSO DAS INICIATIVAS DE SUCESSO...
APRENDER QUE APARENTES RETROCESSOS PROPORCIONAM AVANÇOS

Êxodo 2:11 diz: “Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo”. Atos 2:22 diz: Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras. Quando completou 40 anos, veio-lhe a idéia de visitar os seus irmãos, os filhos de Israel”, e Hebreus 11:24 diz: “Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó”.Cruzando as informações encontramos que Moisés “era um homem feito”, “foi educado em toda a ciência, poderoso em palavras e obras”, já tinha “40 anos de idade”. Estamos diante de varias perspectivas do mesmo momento, e a leitura que podemos fazer desse contexto é que Moisés acreditava estar vivendo o grande momento da sua vida, que já havia alcançado a maioridade, logo a maturidade, que estava pronto.

Acredito que chamado não se recebe, se descobre, porque nascemos com ele, Moisés sabia que havia um chamado dentro dele, isso lhe queimava e quando sentiu-se pronto para assumir seu chamado, simplesmente agiu da maneira que lhe pareceu correta. Para sua surpresa, ninguém o entendeu, ninguém o apoiou, ninguém lhe ofereceu ajuda, obrigando-se a buscar refugio em Midiã, que no original hebraico significa “conflito”. Os quatrocentos anos de Genesis 15:13 que não se encaixam nos quatrocentos e trinta anos de Êxodo 12:40 podem ser explicados pelos aproximados trinta e poucos anos que Moisés morou na “terra dos conflitos” (Midiã). Possível promovermos algum atraso na caminhada, mas dependendo da forma como respondemos ao chamado de Deus para recomeçar, podemos resgatar coisas apagadas dentro de nós (para Moisés foi no lugar onde uma sarça queimava), e retomar nossa caminhada dentro do propósito, tempo e modo de Deus (Eclesiastes 8:5-6). A partir deste momento, me parece que Moisés vê com mais clareza o chamado que carrega, é desafiado a tirar as sandálias dos pés, abrir mão dos seus caminhos, dos seus meios, colocar as coisas em ordem dentro de si mesmo, reconhecer que não estava tão pronto quanto acreditava estar e então, recomeçar.

Uma experiência Incrível e totalmente real, com a qual muitos de nós se identifica, um testemunho de que nossos fracassos não devem nos paralisar, prova de que Deus, diferente das pessoas, não muda conosco quando erramos, prova de que podemos tomar uma posição diante de Deus e recomeçar, conscientes de que no Reino de Deus não se presume, não se “acha”, não se move sem direção e confirmação.

Voltando os olhos para a outra personalidade bíblica, chegamos em Atos 22:13, onde Paulo afirma: “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje, Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres”, e em Filipenses 3.4 fala sobre sua formação: “Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível”.

Paulo também recebeu a melhor formação da sua época, era nativo de Tarso, o terceiro centro universitário do mundo, sendo superado em importância na época apenas por Atenas e Alexandria, tendo a cidadania romana como direito de nascença (Atos 22.8). Portanto, era um homem em desenvolvimento, com um chamado dentro de si tão forte quanto sua personalidade.

Paulo se vivia intensamente uma causa, tinha zelo por Deus, que é diferente do zelo de Deus. Olhando para a maneira como estava se movendo, concordamos que realmente ele precisava de uma experiência que o parasse, que abrisse seus olhos tão cheios de visão e objetivos, que revelasse que seu ímpeto correto era aplicado em uma causa equivocada, uma experiência que mudasse radicalmente a trajetória de alguém que tinha convicção de estar na direção certa.

“Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer. Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém. Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco. Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu”. Atos 9.

Algo impactante para mim é pensar que Paulo foi encontrado por aquilo que procurava, foi encontrado por Deus, tendo uma experiência “traumática” com seu Filho, indo para Damasco prender Cristãos. A palavra Damasco tem um significado interessante: “em silencio está o tecelão de pano de saco”. Paulo viu uma luz que o cegou, ouviu uma palavra que mostrou o quanto estava equivocado, uma experiência que o derrubou do cavalo, que o tirou de uma perspectiva humana e religiosa de ministério, ele foi vencido e levado a um lugar escuro e silencioso, lugar onde só poderia olhar para dentro de si mesmo, rever seus conceitos, valores e convicções. Deveria ficar ali no escuro até ser encontrado e redirecionado em sua jornada ministerial.

Existem muitos “Saulos” entre nós! Jovens cheios de potencial, homens convictos de um chamado, pessoas entregando-se de corpo e alma a uma causa, porém, muitos se lançaram em sua jornada cheios de ensinamentos, mas sem muita clareza, sem pontualidade vocacional. Muitas vezes agindo impetuosamente em nome de Deus, correndo o risco de falar e agir contra o que o próprio Deus está fazendo. Todos nós precisamos passar pelo lugar em que somos vencidos por Aquele a quem servimos, precisamos aprender a esperar que nossos olhos sejam abertos no lugar em que Ele mesmo tira toda visão que nos guiava. Como Ele sabe que não vamos parar e descer do cavalo para rever nossa vida, Ele nos para e nos derruba, para nos apontar o caminho certo, para alinhar nossos passos, parar redirecionar nossa força e nos dar uma causa digna.

A primeira marca de um recomeçar tem a ver com essa parada, creio que assim como eu, muitos já estiveram ou estão morando na terra dos conflitos (Midiã), esperando no lugar escuro e silencioso do tecelão (Damasco). O primeiro passo é reconhecer por quê fomos capturados para este lugar, reconhecer que nosso ímpeto estava nos levando para o lugar errado, entender esse tempo de aparente retrocesso como o momento de um reencontro com o Senhor do nosso chamado, tempo de abrir mão dos nossos meios e recursos pessoais, um momento de tomar decisões firmes e se resolver em Deus, organizar as coisas dentro de nós. É com muita alegria que hoje posso escrever sobre esse lugar, e reconhecer o quanto isso foi determinante para o desenvolvimento do chamado que me consome.

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