Encontros e movimentações I

Luciano Motta

A vida com Deus é dinâmica. Os grandes homens e mulheres da Bíblia estavam sempre em movimento, sempre envolvidos em buscas e encontros, em partidas e chegadas. Assim é conosco. Quando paramos de caminhar, Deus providencia algo para nos impulsionar. Quando estamos ativistas demais, Ele logo dá um jeito de nos parar. A verdade é que muitas vezes (ou na maioria das vezes) não reconhecemos a ação de Deus nesses movimentos — de impulso e freio. Não discernimos o Seu agir em vários momentos de transições, decisões e dores em nossas vidas. Parece que precisamos de mais provas, de mais evidências para crermos que Ele, Deus mesmo, é quem está nos movimentando, nos tirando da zona de conforto ou do perigo de uma religiosidade desenfreada que sacrifica a tudo e a todos, principalmente aquilo para o qual fomos chamados.

Moisés foi um homem experimentado na dinâmica vida com Deus. Sua trajetória pode ser contada a partir de três fases distintas: 40 anos como príncipe do Egito, 40 anos como pastor de ovelhas no deserto e 40 anos como líder de Israel rumo à Terra Prometida. Em todas essas fases, vemos os movimentos — e Deus está lá, ora nos "bastidores", ora aparecendo e falando com Moisés (leia Êxodo, o segundo livro da Bíblia, para conhecer toda a história).

Gostaria de destacar dois encontros de Moisés com Deus que o movimentaram, encontros esses que também ocorrem conosco: o primeiro, quando ainda não conhecemos o Senhor; e o segundo, quando já desenvolvemos alguma maturidade em nosso relacionamento com Ele.

1- Quando Deus vai ao nosso encontro

Chega um momento na vida de qualquer pessoa neste planeta que Deus se revela de alguma forma. Ele nos ama e quer se relacionar conosco. Ele tem planos para nós, vida abundante, graça, paz, alegria... Enfim, todas as coisas que o homem tanto procura estão Nele. Quando Deus vai ao nosso encontro, somos abalados em nossas estruturas interiores. Começamos a crer por meio de um dos nossos sentidos — "a fé vem pelo ouvir" (Romanos 10.17). Há uma participação de nossas percepções humanas no movimento de sermos atraídos para Deus: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam — isto proclamamos a respeito da Palavra da vida" (1 João 1.1).

Êxodo 3:1-6 descreve o momento que Moisés se depara com a sarça ardente e tem seu primeiro encontro pessoal com Deus:
Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, esta não era consumida pelo fogo. "Que impressionante! ", pensou. "Por que a sarça não se queima? Vou ver isso de perto. "O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o chamou: "Moisés, Moisés!" "Eis-me aqui", respondeu ele. Então disse Deus: "Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa". Disse ainda: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó". Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus.
Moisés foi atraído pelo impressionante: Todos precisamos de uma forte intervenção no horizonte de nossas vidas para sairmos da ignorância quanto a Verdade, para rompermos as amarras de circunstâncias e vontades próprias. Moisés estava há quase 40 anos vivendo como pastor de ovelhas  —  a vida agitada nos palácios de Faraó já era uma lembrança distante. Possivelmente nada havia de emocionante em sua rotina com o rebanho de Jetro. E se considerarmos que ele fugira por conta da morte de um egípcio, podemos deduzir que Moisés estava ali naquele deserto de propósito, para se desligar de problemas e de maiores responsabilidades. Ele queria morrer ali, mas Deus mudou tudo ao aparecer naquela sarça. Aquela visão havia quebrado todas as suas expectativas.

Sem dúvida, Moisés já tinha visto muitas sarças, pequenos arbustos, mas aquela era simplesmente incomparável. Muitos de nós são atraídos para Deus a partir de situações aparentemente banais. Contudo, quando Ele intervém, até o comum, o insignificante torna-se algo extraordinário, inesquecível, impossível de ser ignorado. É um movimento Dele para chamar nossa atenção, para nos tirar do nosso próprio caminho. Assim, uma vez que nos voltamos para Deus, somos marcados para sempre.

Moisés foi chamado pelo nome:  A primeira marca da identidade é o nosso nome. Sempre que alguém nos chama pelo nome, imediatamente nossa atenção é captada. Além da sarça que não se consumia, Deus atraiu Moisés ao chamá-lo pelo nome, reconhecendo dessa forma sua individualidade, suas características e emoções peculiares. Deus deseja se relacionar conosco de forma pessoal, profunda, íntima. Ele não generaliza, não nos trata como parte de uma multidão de seres viventes, mas focaliza e ama um a um, pessoa a pessoa.

O Senhor se apresentou a Moisés como o Deus de seu pai Anrão, neto de Levi, um dos filhos de Jacó, filho de Isaque, filho de Abraão. É como se Ele dissesse: "Você faz parte de uma linhagem que está sob a minha aliança e sob as minhas promessas, portanto, o seu lugar não é aqui escondido nesse deserto". Interessante que o nome "Moisés" fora dado pela filha de Faraó porque ele havia sido "tirado das águas". Essa característica de "ser tirado" está presente em toda a sua vida. Deus também nos tira de nosso status quo, de nossa posição atual, e nos movimenta em direção à Sua vontade.

Moisés teve medo de olhar para Deus:  Ante a santidade do Senhor, somos expostos em nossos delitos e pecados, expostos a quem realmente somos. Moisés viu a si mesmo como miserável e frágil, tal qual o profeta Isaías, que depois de contemplar o Senhor reconheceu-se impuro, a ponto de morrer (Isaías 6.1-4). Na presença de Deus, o que nos resta senão nos arrependermos de nossos maus caminhos e nos rendermos totalmente a Ele? Qualquer opção diferente desta implica em rebeldia e obstinação, como foi com Lúcifer. E sabemos qual será o fim dele (Apocalipse 20.10).

Houve medo no coração de Moisés. Ele cobriu o rosto. "Rugiu o leão, quem não temerá?" (Amós 3.8). Esse temor nos coloca na posição correta de servos, nos esvazia de toda auto-suficiência, nos lança ao chão, rendidos, prostrados, totalmente dependentes da graça e do amor de Deus. Moisés precisou desse encontro para superar seus temores interiores, deixar o passado no passado e submeter-se ao Senhor. Uma nova fase começou para ele, uma nova vida.

Creio que o primeiro encontro de Moisés com Deus seja muito semelhante ao nosso: Depois de sermos atraídos para Ele, encontramos Nele uma identificação, uma vida absolutamente nova e irresistível. Ao mesmo tempo, tomados de um temor reverente, temos a sólida convicção de que não pertencemos mais a nós mesmos. Então, nos rendemos a Ele arrependidos, convertidos ao Seu coração, à Sua soberana vontade, para vivermos os Seus propósitos.

Continua...

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