Megamente: quando se vive as demandas dos outros

Luciano Motta

"O que aconteceria se o vilão derrotasse o herói?"

É com base nessa premissa que boa parte do longa de animação Megamente se sustenta. Surpreende o espectador no modo original como focaliza a questão, valendo-se do trio clássico das narrativas - o herói, o vilão e a mocinha.

Dois bebês extraterrestres são enviados à Terra por seus pais para escaparem da morte certa em seus planetas de origem. Tanto Megamente quanto Metroman - nomes que adotam ao chegarem aqui - são personagens deslocados; nitidamente não pertencem a este mundo. A criatura azulada assume um lugar de preconceito, de incompreensão, apesar de sua extraordinária inteligência. O outro, de biotipo mais apropriado aos ditames estético-culturais humanos, logo torna-se um queridinho da sociedade, destacado ainda mais por seus superpoderes, apesar da visível arrogância.

Tornam-se grandes antagonistas. Travam constantes embates ao longo de suas vidas desencaixadas, como que movidos pelas demandas de seus destinos. Até que chega o tal instante crucial, a grande e singular vitória do vilão - mudam as trajetórias de todos os personagens e também o desenrolar, até então previsível, da narrativa.

Além da questão da morte do herói, a animação toca algo ainda mais profundo: Por que as pessoas vivem as demandas dos outros? Por que conformam e direcionam suas vidas pelas circunstâncias exteriores ou pelo meio em que vivem? É verdade que esses pontos não são de fácil resolução. Pensadores, sociólogos, filósofos já se debruçaram sobre essas perguntas e teceram seus pareceres. A discussão não se encerrou, nem se encerrará neste pequeno texto.

Contudo, ligado a essa problemática existencial, um aspecto muito significativo deve ser ressaltado: Identidade. É muito importante saber quem somos. É fundamental vivermos a verdade de quem somos. E o principal: é vital conhecermos Cristo e descobrir quem somos Nele.

Não precisamos assumir uma condição falsa só para aparentarmos algo para os outros. Não precisamos de faces iconográficas nas redes sociais da internet para fingirmos uma imagem que não retrata a nossa realidade. Não precisamos repetir os erros de nossos pais. Não precisamos nos sujeitar às pressões sociais atuais que desvirtuam os valores familiares e a sexualidade sadia.

Trazendo para o âmbito eclesiástico: Não precisamos exibir um tipo "super-crente" e por causa disso não encararmos honestamente nossas falhas e desajustes. Não precisamos manter uma posição/função na igreja local que não corresponda ao chamado de Deus para nós, ainda que irmãos, líderes ou mesmo pastores nos pressionem direta ou indiretamente. Não precisamos transgredir nossas virtudes pessoais ou silenciar nossas boas opiniões por causa de determinações denominacionais ou inquisições da igreja/liderança local.

Veja como em poucas palavras já se descortinam diversas imposições exteriores que tem conduzido multidões a caminhos sem saída, a voltas e voltas intermináveis, a comportamentos estranhos, a conflitos interiores e com outras pessoas. E o pior: tais coisas fortalecem o vazio de sentido para a vida.

Quando nossa maior e principal demanda for Cristo, ou seja, vivermos por Ele e para Ele (Colossenses 1.16), perderão todo valor os papéis que assumimos por causa dos outros. De alguma forma, Megamente e Metroman nos lembram que pertencemos a outro mundo, a outra ordem, a outro Reino. Nossos poderes e capacidades devem servir a Cristo enquanto crescemos em graça e em intimidade com Ele. Aí, sim, tudo fará sentido.

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Leia também meus comentários e reflexão sobre o filme A Origem.

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